sexta-feira, 24 de abril de 2009

Estudo Bíblico

Uma expressão muito usada na igreja é “estudo bíblico”. Muitas pessoas falam da necessidade de mais estudo bíblico na igreja, da importância do estudo bíblico e assim por diante. No entanto, essa expressão “estudo bíblico” está se demonstrando ser polissêmica, isto é, tem um significado para cada pessoa que a ouve e para cada pessoa que a pronuncia. O que, afinal de contas, é um “estudo bíblico”?

Já vimos a expressão “estudo bíblico” ser usada para designar uma série de acontecimentos. Entre eles, podemos citar: uma palestra dada a um grupo ou departamento da congregação; um sermão “diferente”, que não é dado do púlpito ou da tribuna; a explicação de um texto bíblico; o estudo de um livro da Bíblia; o estudo de um tema qualquer utilizando textos bíblicos.
Em algumas igrejas, é comum as pessoas distinguirem entre o culto regular e o estudo bíblico. Um acontecimento é o culto regular, outro é o estudo bíblico. São dois acontecimentos separados. Existem outros ainda que distinguem o estudo bíblico do culto, mudando a forma como um e outro são realizados. No culto usam uma liturgia mais formal, e no estudo bíblico não seguem uma seqüência muito rígida.

Neste artigo queremos abordar alguns aspectos daquilo que é entendido por “estudo bíblico”, provocando algumas reflexões sobre um tema que está recebendo bastante atenção. Neste trabalho, faremos referência ao estudo bíblico como aquele momento em que a congregação ou um grupo da congregação se reúne em torno da Palavra de Deus para estudar um texto bíblico ou um tema bíblico.

1. Quanto ao conteúdo

1.1. Diferença entre o estudo bíblico e o estudo de tema bíblico

Uma primeira diferença que precisa ser constatada na abordagem do “estudo bíblico” é a distinção entre texto bíblico e tema bíblico. Tema bíblico seria o estudo de um assunto abordado nas Sagradas Escrituras, a partir de vários textos bíblicos. Exemplos de temas bíblicos são: a oração, o batismo, as ofertas, as boas obras. Esses temas podem ser estudados a partir de vários textos bíblicos.

O que caracteriza o estudo de um tema bíblico é que ele não se encontra fundamentado apenas num texto da Bíblia. Normalmente, os estudos doutrinários são estudos de temas bíblicos. Grande parte dos estudos feitos na igreja, embora receba o título de “estudo bíblico”, na verdade é estudo de “temas bíblicos”. Esses estudos são possíveis e até mesmo necessários na igreja. Importa, entretanto, que, ao serem feitos, seja dada a devida atenção à Bíblia. Estudar um tema bíblico e citar textos bíblicos que confirmem o tema estudado implica em fidelidade ao texto bíblico e ao que ele quer dizer.

O estudo bíblico propriamente dito é o estudo de uma perícope (trecho da Bíblia) ou livro da Bíblia por um grupo da igreja ou pela igreja toda. Infelizmente, esse tipo de estudo não recebe, a nosso ver, a atenção suficiente. Embora textos bíblicos sejam lidos nos cultos e em várias ocasiões na vida da igreja, são poucas as vezes em que esses textos realmente são estudados com o povo. Aquilo que seria um “estudo bíblico”, na mais legítima acepção da palavra, recebe uma atenção secundária.

1.2. Fidelidade ao que o texto em foco diz

De qualquer forma, estudando um tema bíblico ou um texto bíblico, importa ser fiel às Escrituras e basear-se realmente no texto bíblico citado. Muitas vezes, teorias pessoais são ensinadas, aspectos culturais ou sociais são transmitidos, sob o pretexto de que está se realizando um estudo bíblico. Estudar o texto bíblico, ver o que a Bíblia realmente está dizendo, fazer exegese na mais legítima acepção da palavra, abre os horizontes da fé para aspectos novos, que justamente podem romper com nossas convicções culturalmente condicionadas.

Uma das maiores revoluções que se pode provocar na igreja é estudar a Bíblia, a Palavra de Deus. Para exemplificar, podemos mencionar duas situações bastante comuns. Num caso, a pessoa ensina uma verdade, aponta um texto bíblico como prova, mas o texto não comprova a verdade que a pessoa está querendo afirmar. Embora com boa intenção, nesse caso, o texto bíblico é forçado. Outras vezes, a falsa compreensão de um texto leva a pessoa a ensinar algo contrário ao ensinamento bíblico. Em ambos os casos, falta aprofundamento no texto bíblico.

1.3. Centralidade de Cristo

Um outro aspecto do estudo bíblico que, muitas vezes, deixa a desejar na hora da apresentação, é a centralidade de Cristo na compreensão da Bíblia. Por trás dessa questão está latente uma questão hermenêutica: como usar o texto bíblico, ou, com que finalidade nos é dado o texto bíblico.

No estudo de temas bíblicos, é comum ouvir instruções sobre como deveria ser a vida cristã. Quando se fala na vida em família, diz-se como deve ser o comportamento do pai, da mãe e dos filhos. Quando se fala em oração, diz-se quando orar, o que pedir, como orar e assim por diante. Quando se fala em oferta, diz-se como deve ser a oferta, quando deve ser dada, como deve ser calculada. Com isso, diz-se que se ensina como viver a vida cristã e que a lei pregada está sendo ensinada como norma. O estudo bíblico é, por assim dizer, o estudo de uma legislação ou normatização da vida cristã.

A questão hermenêutica latente é a seguinte: Cristo é o centro das Escrituras? Qual a necessidade do sacrifício de Cristo para tal tipo de estudo bíblico. Como é fácil de depreender, se a pregação de Cristo, o Salvador, for dispensável, há algum problema na questão da centralidade de Cristo para a vida cristã. Em nenhum estudo bíblico deveria faltar o anúncio de Cristo como Salvador. Em outras palavras, mesmo num estudo de norma de vida cristã é preciso a presença do evangelho, ou seja, da boa nova de que Cristo nos salva.

A questão hermenêutica da finalidade das Escrituras é importante. Se Cristo é o centro das Escrituras e se ele é o centro das Escrituras como Salvador, isso deve estar presente também nos estudos bíblicos.

2. Quanto à apresentação

2.1. Providenciar texto bíblico ou esboço do estudo para todos participantes.

Aqui queremos chamar a atenção para questões de ordem prática. Muitas vezes, na hora do estudo bíblico, é solicitada a leitura de tantos textos bíblicos diferentes que parte dos presentes passa grande parte do tempo folheando a Bíblia e tentando achar os versículos mencionados. A menção de muitos textos bíblicos não garante que alguém seja realmente bíblico. Os maiores hereges, em geral, citam muitos textos bíblicos. Inclusive entre religiões não-cristãs há o costume de citar muitos textos bíblicos.

Quando se dirige um estudo bíblico, é muito bom aprofundar o sentido dos textos citados. Boa parte das pessoas tem dificuldade em manusear a Bíblia. A citação de poucos textos, explicando seu conteúdo e mostrando o que esses textos significam dentro do contexto específico em que se encontram, pode ajudar mais que a leitura corrida de uma série de textos em diversos lugares da Bíblia.

Para isso, é bom escolher, preferencialmente, os textos básicos ou fundamentais e explorar mais o conteúdo deles em lugar de optar pela leitura de grande quantidade de textos, localizados em diferentes partes da Bíblia. O leitor comum da Bíblia tem dificuldade em se concentrar quando folheia muito a Bíblia.

Se, em vez de estudar um texto bíblico, o que está acontecendo é o estudo de um tema bíblico, é bom que todos os participantes tenham em mãos um esboço do estudo que está sendo feito, ou que ele esteja escrito na lousa ou projetado numa tela. E, se chamamos isso de estudo bíblico, é importante que a Bíblia realmente seja usada. Por vezes, as pessoas se queixam de que vão a estudos bíblicos, e a Bíblia nem é utilizada. Fica mais fácil para elas entender que estão fazendo um estudo bíblico se efetivamente a Bíblia for utilizada.

2.2. Diferenças quanto ao número de participantes do grupo.

Outra questão prática que precisa ser observada quando se oferece um estudo bíblico é quanto ao número de participantes dos grupos. Fazer um estudo com um grupo em torno de 5 pessoas, é diferente de fazer um estudo com um grupo de 10 pessoas e muito diferente ainda de fazer um estudo com um grupo com mais de 50 pessoas.Nos grupos até 20 pessoas, o diálogo de perguntas e respostas entre o dirigente e membros do grupo ainda é possível. Em grupos maiores, o diálogo é quase impossível.

Mesmo em grupos com poucas pessoas, por razões culturais, sociais e outras, nem sempre o diálogo se dá com facilidade. Em grupos maiores, a conversação entre o preletor e o grupo nem sempre é possível. Em grupos pequenos, pode ser criado um ambiente de fraternidade e confiança, em que a maioria das pessoas se sente bem em falar. Em grupos maiores, boa parte das pessoas sente-se constrangida se tiver de falar. Além disso, a grande maioria das pessoas não tem treinamento para falar em público.

Quando o dirigente do estudo insiste em pedir para as pessoas presentes falarem, podem surgir algumas questões críticas. Alguém pode falar com pouco volume ou com má dicção, de forma que ninguém entende o que está sendo dito. Isso não traz proveito para o grupo todo. Outra experiência comum é que sempre os mesmos falam. São as pessoas mais desembaraçadas, ou aquelas que monopolizam o diálogo. Outras vezes, acontece que pessoas ficam receosas de serem solicitadas a falar e, com isso, não conseguem nem prestar atenção no que está se passando. Nunca se deveria constranger alguém a falar em público. A desculpa de que a pessoa, com o passar do tempo, perderá a inibição não é verdadeira. O resultado pode ser exatamente o contrário.

Além disso, são diferentes as técnicas de apresentação de estudos e palestras para diferentes tamanhos de grupos. Não se pode falar para uma igreja com 200 pessoas da mesma maneira como se fala para um grupo de 8 ou 10 pessoas. Essa realidade nem sempre é observada nos chamados estudos bíblicos. O dirigente do estudo dirige-se ao grande grupo como se estivesse falando com um grupo pequeno. Distinguir entre grupos pequenos, médios e grandes implica em usar técnicas adequadas de apresentação do estudo para os diferentes auditórios.

A participação ativa das pessoas num estudo bíblico não se dá apenas quando elas respondem de viva voz ao dirigente do estudo. Muitas vezes, uma pessoa não diz nada, não faz nem responde perguntas de viva voz, mas está participando ativamente no estudo. Como conseguir isso? Entra-se aí numa arte que o dirigente de estudo bíblico deve desenvolver. O seu estudo deve ser claro, tratar de assuntos que despertam o interesse e deixar realmente a Palavra de Deus falar. Nesse sentido, um dos aspectos mais interessantes é o de como dirigir perguntas ao grupo.
A pergunta deve ser clara. Não deve ser nem tão difícil que ninguém saiba respondê-la, nem tão óbvia que não represente desafio ao raciocínio. O ouvinte deve ter tempo para pensar na resposta. No entanto, esse tempo não deve ser tão longo, a ponto de criar um clima de insegurança nos presentes por causa do silêncio. Enfim, perguntar é uma arte que precisa ser desenvolvida.

3. Quem deve dirigir o estudo bíblico

Para concluir, gostaríamos de chamar a atenção para a questão da responsabilidade sobre o estudo bíblico. Pastores, em geral, são também dirigentes de estudos bíblicos. Isso não significa que apenas pastores ministrarão todos os estudos bíblicos que acontecem. O pastor, no entanto, pela sua função de supervisor do trabalho da igreja, deve supervisionar o estudo que está sendo dado na igreja.

Um outro aspecto que também merece cuidado é o do preparo de quem ministra o estudo bíblico. A pessoa que ministrará os estudos bíblicos deve receber treinamento adequado para realizar essa tarefa. Dar um estudo bíblico não é nada tão difícil que somente alguém altamente especializado possa fazer. Também não é tão simples que qualquer um pode executar a tarefa a contento. Cada igreja local deveria capacitar, pelo menos minimamente, as pessoas que ela pede para dirigirem estudos bíblicos.

Conclusão

A temática do estudo bíblico é ampla e ainda merece muita reflexão. O conhecimento do conteúdo da Bíblia está deixando muito a desejar em boa parte das igrejas. O intuito deste artigo é incentivar que estudos bíblicos continuem acontecendo e que eles sirvam cada vez mais para a edificação do corpo de Cristo.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Vitória sobre o medo

O medo é um sentimento que está presente na vida de todas as pessoas. Por um lado, o medo é necessário. Quem não tem medo, se coloca em situações de perigo sem ter nenhuma prevenção. Quem não tem medo de atravessar uma avenida movimentada, não para a fim de calcular bem o perigo e pode ser atropelado. Quem não tem medo do perigo, não se cuida. O resultado disso pode ser que a pessoa prejudique a si mesmo.
No entanto, o medo em demasia causa uma paralisia na pessoa e ela não consegue fazer mais nada. Muitas pessoas, por medo exagerado, perdem muitas oportunidades na vida. Alguns não tentam uma entrevista de emprego com medo de serem reprovados. Alguns não dirigem um carro por medo de não serem capazes. E nem ao menos tentam. O medo exagerado traz prejuízos para as pessoas.
No Salmo 56, o salmista Davi fala da experiência do medo. Ele havia sido preso pelos filisteus na cidade de Gate. Ele sentiu medo. Os inimigos do rei Davi estavam sempre a persegui-lo. Ele se sentia ameaçado. Mas aí ele diz como venceu o medo. Ele confiou em Deus. No versículo 4 deste Salmo, o rei Davi diz: “Confio em Deus e o louvo pelo que ele tem prometido; confio nele e não terei medo de nada. O que podem me fazer simples seres humanos?”
Davi sabia que acima dos seus inimigos estava Deus. E se ele estivesse com Deus, ele não precisava ter medo de nada. A solução para sua vida era confiar em Deus. Estando com Deus não precisava ter medo.
Isso que era verdade para o rei Davi, também é verdade para você e para mim, estimado amigo e amiga ouvintes. Confiando em Deus não precisamos ter medo. Jesus Cristo, o nosso Salvador, venceu todos os nossos maiores inimigos. Ele venceu até a morte. Por que ter medo? Se estivermos com Cristo somos mais que vencedores. Na hora em que você sentir medo, lembre-se de Deus. Nele encontramos segurança.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Contrastes

O autor de um livro de pesquisa científica sobre a figura histórica de Jesus Cristo comentou que as histórias da Bíblia necessariamente tinham que ser verdadeiras porque ninguém poderia escrever histórias de ficção tão perfeitas. Imagine que alguém resolvesse falar de seu grupo religioso e denunciasse que o seu tesoureiro era um ladrão. Pois isso aconteceu com o grupo dos discípulos de Jesus. Judas, o tesoureiro, era ladrão. E, pior, ele, o tesoureiro ladrão, parecia defender os interesses do grupo. Dizia que poupava dinheiro para ajudar os pobres.
Isso aconteceu exatamente na segunda-feira da Semana Santa. Jesus estava no povoado de Betânia, junto com seus amigos Maria, Marta e Lázaro. Maria pegou um frasco de perfume muito caro e com ele lavou os pés de Jesus. Depois, com seus próprios cabelos, enxugou os pés dele e toda a casa ficou perfumada. Judas vendo isso, lembrou que aquele perfume poderia ser vendido por mais de trezentas moedas de prata e o valor ser dado aos pobres. E o evangelista que registra o fato diz que Judas falou isso porque ele era ladrão.
Que contraste. Aquele de aparência piedosa, o defensor dos pobres, era um ladrão. E aquela mulher, que aparentemente desperdiçava dinheiro, homenageava o Salvador do mundo. Quantas vezes vemos coisas semelhantes acontecendo no mundo, e mesmo, dentro das igrejas. Os defensores dos pobres, muitas vezes, são os que mais tiram proveito próprio da situação. E aqueles que se dizem defensores dos bens da Igreja, muitas vezes, não tem amor verdadeiro pelo semelhante e nem por Deus.
Jesus soube fazer a distinção entre o verdadeiro amor e o falso zelo. Judas foi condenado pelos seus atos. Maria recebeu o amor do Salvador. É muito importante ver as coisas como Jesus vê. Jesus não olha as aparências. Ele sabe o que é de fato amar o próximo e o que é pura retórica.
Examinemos os atos de nossas vidas à luz do ensinamento de Jesus. Que saibamos colocar valor naquilo que Deus dá valor e saibamos nos afastar da falsa piedade.